sexta-feira, 25 de maio de 2012
Um cientista que todos devem conhecer
A ciência agora faz arte
http://www.educacional.com.br/entrevistas/entrevista0087.asp
Imagine um cientista ou um professor de Ciências. Se a figura que você visualizou é metódica, racional, calculista e fala sobre coisas pouco emocionantes e muito difíceis de explicar, você pensa como a maioria das pessoas. Mas, se você imaginou o oposto, talvez já tenha tido a oportunidade de conhecer gente como o bioquímico Leopoldo de Meis, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele trabalha, com a ajuda de artistas, para mostrar a face emocionante da ciência. Dessa parceria inusitada já surgiram peças de teatro, livros (dentre eles, O Método Científico) e um CD-ROM sobre o funcionamento da mitocôndria.
O entendimento de conceitos científicos não é coisa fácil de se conseguir. Alunos se cansam facilmente das fórmulas e conteúdos sem vida. Professores, levados por pressões diversas, como o vestibular, acabam optando por "decorebas". Até os cientistas, quando não encontram emoção na atividade, acabam esquecendo que, por trás de toda aparente aridez da ciência, mora um mistério mais do que atraente.
Para despertar esse encantamento, Leopoldo de Meis iniciou seus trabalhos de aproximação entre a ciência e a arte. Uma das investidas foi o livro O Método Científico, feito em parceria com o artista Diucênio Rangel. Escrita em quadrinhos, de estilo semelhante aos gibis que os jovens gastam satisfeitos a mesada para ler, a obra já está na terceira edição. Cada uma delas com uma tiragem de 4 mil exemplares: 70% foram doados a escolas públicas ou a professores e o resto, vendido a preço de custo.
A partir do livro, outra iniciativas foram surgindo. Uma peça baseada em O Método Científico, na qual atuaram professores doutores e alunos de pós-graduação e de iniciação científica, foi encenada 30 vezes em todo o Brasil. A maior parte, a convite de universidades e congressos que misturaram alunos de escolas e universitários.
A mais recente idéia de Leopoldo de Meis foi utilizar a computação gráfica para divulgar a ciência. Assim, surgiu o CD-ROM (Mitocôndria em Três Atos) sobre o desenvolvimento da mitocôndria, com imagens e músicas escolhidas a dedo. O objetivo principal é emocionar, porque, segundo ele, a emoção tem uma função didática fundamental: ela motiva o aprendizado.
Na entrevista abaixo, Leopoldo de Meis define ciência e opina sobre o ensino e a importância da emoção para a compreensão de conceitos.
O que é a ciência?
A ciência é uma atividade por meio da qual o homem procura entender a natureza e o universo que o cerca.
Qual é o papel dela no mundo de hoje?
Desde o princípio até os dias atuais, a ciência tem derrubado muitos tabus e crenças, o que tornou o homem mais livre. Por exemplo: até 1800 a.C., o homem acreditava que doenças fossem manifestações da alma ou castigos de deuses. Hoje, sabemos que não. O grande médico Stahl, em 1703, acreditava (e ensinava) que a febre era uma manifestação da alma. Atualmente, a aspirina e o tilenol são excelentes antitérmicos que abolem a febre. É pouco provável que a aspirina ou tilenol atuem na alma, não?
O ensino da ciência nas escolas é feito de forma funcional?
Varia muito de uma escola para outra, mas, de forma geral, não. Este não é um problema exclusivamente brasileiro. Ainda não conseguimos nos adaptar à explosão do saber dos últimos 100 anos. Em trabalho recente de minha colega Denise Lannes, professores e alunos de diversas escolas foram entrevistados, e a conclusão é de que a maioria dos alunos acha que a escola não ensina o que eles querem aprender e os professores não ensinam o que eles gostariam de ensinar. Quadro complicado este. O trabalho vai sair brevemente na revista inglesa Educational Research e faz parte da tese de doutorado da Denise.
Como despertar o interesse dos jovens pela área?
A maior parte dos professores de Ciências não está preparada para a tarefa. Ademais, ensinamos hoje em dia como Aristóteles ensinava em sua escola, o Liceu, em 335 a.C. De modo geral, diria que a forma como ensinamos ciência é muito chata. O material didático que usamos, via de regra, não possui atrativos. Nos preocupamos muito com a informação e pouco com a formação.
Existe espaço para a intuição e a criatividade no ensino e também na pesquisa científica?
Claro. Esses são ingredientes fundamentais em qualquer profissão. Método, lógica, intuição e criatividade são necessários em qualquer área.
O que é preciso para ser um bom professor de Ciências?
Ser culto e ser "boa gente" ou, como muitos jovens gostam de afirmar aqui no Rio, "sangue bom".
Qual é o papel da emoção no aprendizado da ciência?
No meu entender, a emoção é a principal força motivadora do homem. Qualquer atividade que permite emocionar os jovens captura o interesse e a dedicação deles (e de coroas também) e a ciência e a educação não são exceções. Existe este estereótipo de que cientista é só lógica e método, tipo robô. Não se pode esquecer que a ciência é feita por homens e mulheres e estes não são uma espécie à parte — vão ao cinema, namoram, tomam chope, feito qualquer outro mortal.
Faz diferença para o trabalho de um cientista ter formação humanística?
Acho que uma formação humanística é fundamental em qualquer profissão, inclusive na de cientista. Essa pergunta costuma ser feita somente para cientistas, mas seria ótimo se fosse estendida para advogados, jornalistas, militares, professores ou qualquer ser humano. Acho que uma cultura humanista mais ampla seguramente tornaria nossa sociedade muito mais civilizada.
Existem muitas outras iniciativas e cientistas que estão se preocupando em facilitar o acesso da população à ciência?
Muitos: em Campinas, Prof. Paulo Arruda e o próprio reitor da Universidade de Campinas, Prof. Brito Cruz, um excelente físico que também trabalha em Educação; Prof. Tania, do Instituto Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro; Prof. Eleonora Kurtnback, de nosso departamento, e Prof. Pedro Persechini, do Instituto de Biofísica da UFRJ, ambos responsáveis pelo "Espaço Ciência Viva"; toda a equipe da revista Ciência Hoje e Ciência para as Crianças, coordenadas pelo Prof. Roberto Lent; Prof. Hamburguer, da Estação Ciência, em São Paulo, e muitos outros.
Dica
Veja mais sobre o livro O Método Científico, de Leopoldo de Meis
Ciência Hoje
Espaço Ciência Viva
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